Um dia, em um banco de praça

Um casal sentado em um banco de praça. Falam-se baixo, voltados mais para si do que para o outro, parecem se dizer palavras cansadas de repetição, não há ênfase, não há vigor, parecem nem conseguir chorar, o choro seria uma atitude ativa, positiva, afirmativa, uma tomada de posição. Eles só se dão as mãos, de fato jogadas uma encima da outra, de vez em quando ela dá um tapinha, como se dissesse “sim, pois é, é isso”. Ele tira um maço de cigarros do bolso, oferece um, ela recusa, ele tem dificuldades para acender, o vento atrapalha e o mesmo vento não os faz querer se abraçar e se aconchegar. Como definir um relacionamento cujo maior desejo do momento é encontrar o conforto, não do parceiro, mas de um encosto do banco, que não existe e, portanto, nada os confortará?

Eles se levantam devagar e, no exato instante em que ficam de pé, nem um segundo antes,  infinitamente rápido ela dá um sorriso aberto, escancarado.

Estraçalhando, sem piedade,  toda a construção mental que eu tinha feito no primeiro parágrafo.

 

 

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3 Comentários em “Um dia, em um banco de praça”

  1. André Machado Says:

    Puxa, Claudinei. Eu gostei bastante. Aliás, estou gostando de acompanhar o seu blog e o do Fran.
    Vamos ver se esse comentário é aprovado porque o WordPress recusou três vezes, dizendo que eu já falei isso. Como assim?

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    • Claudinei Vieira Says:

      Blz, André, ´brigado! A pretensão é de manter o nível, vamos ver.
      Quanto ao problema do comments também não entendi. Pelas minhas configurações não deveria haver nenhuma restrição, nem por repetição, fora colocar o nome. Espero que não aconteça de novo.
      E, só para constar: não te considero repetitivo.
      FAlôu

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  2. André Machado Says:

    Puxa, Claudinei. Eu gostei bastante. Aliás, estou gostando de acompanhar o seu blog e o do Fran.

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